Artigo: Os urros da Casa Grande ecoaram pelo Brasil

No domingo, 15 de março, saíram às ruas centenas de milhares de pessoas, com bandeiras dos mais diversos matizes. A maioria defendendo propostas antidemocráticas, em que pediam a derrubada da presidente Dilma Rousseff, atrelada a luta contra a corrupção ancorada na chamada Operação Lava-Jato que vem desencadeando um processo de liquidação da maior empresa brasileira, a Petrobras, em que a participação do segmento de petróleo e gás natural no PIB (Produto Interno Bruto, que mede a soma de riquezas produzidas no país) aumentou de 3%, em 2000, para 12%, em 2010, e chega a 13%, nos dias de hoje.

O Brasil já viveu na sua história momentos de histeria iguais a estes. Todos eles conduzidos pelas oligarquias nacionais e interesses de grupos internacionais de várias tendências e, hoje, a serviço do projeto de dominação do Consenso de Washington.

De acordo com a história contemporânea, foi assim no pós-guerra, na democratização, quando o Partido Comunista Brasileiro foi legalizado e nas eleições gerais de 1946, que conseguiu eleger uma bancada de 14 deputados federais e um senador, o que causou perplexidade nos setores conservadores, que viam nisto um perigo iminente contra os seus interesses. Em 1950, com a volta de Vargas ao poder, com o seu projeto de cunho trabalhista e desenvolvimentista, foi argumento para os grupos conservadores pressionarem o governo até levá-lo ao suicídio.

Em 1956, com a eleição de Juscelino, novas tentativas reacionárias buscavam impedir que o Brasil caminhasse rumo à construção de uma sociedade que, dentro dos moldes capitalistas, fosse mais justa e solidária com seu povo, diminuindo o fosso de desigualdade que imperava desde o período colonial. Ainda dessa vez, o pensamento de cunho nacionalista existente em uma parcela dos militares brasileiros impediu, momentaneamente, o retrocesso e Juscelino pode levar o projeto de desenvolvimento iniciado por Vargas.

Com a ascensão de João Goulart em 1961, começou o movimento denominado “reformas de base”, onde estavam reunidas iniciativas que visavam alterações bancárias, fiscais, urbanas, administrativas, agrárias e universitárias. Para completar, almejava-se oferecer o direito de voto para analfabetos e às patentes subalternas das forças armadas. As medidas causariam uma participação maior do Estado em questões econômicas, regulação do investimento estrangeiro no país e a limitação da remessa de lucros para o exterior. Entre as mudanças de reformas pretendidas, em primeiro lugar, estava a reforma agrária, com o objetivo de reduzir os assassinatos de trabalhadores rurais e possibilitar que milhares de camponeses tivessem acesso às terras.

A mobilização pelas reformas foi determinante à organização da oposição, especialmente dos militares, e para dar início ao golpe de Estado que tiraria, em 1º de abril de 1964, o presidente João Goulart do poder, o que encerrou as tão almejadas reformas de base (que levariam o país na direção de uma sociedade desenvolvida, socialmente justa) e estabeleceu uma sangrenta ditadura militar no país.

O fim do regime militar, a eleição de um sindicalista metalúrgico para presidente da República e a eleição da primeira mulher para presidente, com dois mandatos consecutivos, provocou a ira da oposição. Mais uma vez, as oligarquias brasileiras se manifestam de forma golpista, e passam a fomentar a derrubada do governo democraticamente eleito, com apoio da mídia conservadora, que exerce domínio absoluto na informação brasileira.

As últimas manifestações mostraram o caráter da elite brasileira. A turba representante da Casa Grande vociferava palavras de ordem, que iam desde ofensas pessoais à presidente, até pedidos de volta dos militares ao poder. Atacavam todas as medidas dos governos Lula/Dilma que representassem avanços culturais e sociais, numa demonstração de que vivemos uma crise civilizatória de consequência imprevisível.

Em Brasília, um energúmeno – que se diz professor de história-, ajudava a empunhar uma faixa contra o cientista da educação brasileira, professor Paulo Freire, reconhecido mundialmente pelo seu método revolucionário de alfabetização, assumido pela ONU (Organização das Nações Unidas) e aplicado em vários países. Para os verdadeiros educadores, que não colocam a ideologia como elemento de embotamento do pensamento, como dizia Freire, a pedagogia do dominante é fundamentada em uma concepção bancária de educação, da qual deriva uma prática totalmente verbalista, dirigida para a transmissão e avaliação de conhecimentos abstratos, numa relação vertical, o saber é dado, fornecido de cima para baixo; é autoritária, pois manda quem sabe. Nesta concepção, denominada por Paulo Freire de Educação Bancária, o sujeito da educação é o educador, sendo os educandos como vasilhas a serem enchidas pelo conhecimento depositado pelo educador.

Assim, nós que pensamos a educação como uma proposta de oposição a esta realidade contrária à educação como prática da liberdade, repudiamos esse pseudo professor, um representante legítimo dessa elite opressora e patrimonialista, que reflete os conceitos de dominação da Casa Grande à Senzala.

Professor Trajano Jardim
Diretor do SINPROEP-DF

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